terça-feira, 28 de setembro de 2010

O parasitismo é o recado da mãe Natureza

A parasitismo é o fenômeno mais extraordinário da natureza. É sua extensão "natural" pois não é mais do que a manifestação particular de sua expressão genérica: não há privilégio na natureza, a emergência é a única manifestação infalível. Pois, se o ser humano se julga "eleito", vem a natureza e dá preferência à evolução da espécie e não do indivíduo. O parasitismo está aí para isso: para testar a espécie, às custas da sobrevivência do indivíduo. Se acaso esse indivíduo é você, a natureza está se lixando.
A descoberta do parasitismo tornou a existência de Deus desnecessária na Ciência. Afinal, não precisamos lançar mão do criacionismo com seus pressupostos de perfeição que Deus criou, pois, se Deus tivesse criado o Homem para ser sua imagem na terra, o Homem seria imune às parasitas. Não há santo no mundo que não esteja sujeito a uma gripe. Sem parasitismo, o santo homem nem existiria.
Fica difícil sustentar a existência de Deus quando o bem maior, o da capacidade de entender, mesmo que parcialmente, o que se passa no universo, dispense sua existência como pressuposto.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Crer

Quando criança, no catecismo, me ensinavam a oração "Creio". 'Creio em Deus, Pai todo poderoso...' não me lembro mais. Uma vez, a professorinha de um cursinho de admissão dizia que "na religião dela", a conversa com Deus "era de outra forma". Eu não tinha a malícia de me perguntar que "forma" era essa. Assumi que era outra oração. Deduzi também que ela era protestante, ou "crente". Ora, um "crente" deveria rezar "Creio". Ou não? Na época eu achava que só existiam duas religiões: a católica e a protestante. Judeu, do que podia deduzir, era uma forma de se comportar, especialmente com relação ao dinheiro, e o dono da loja que vendia roupa, perto da praça principal. Isso eu descobri porque, um dia fomos à loja - que era uma evento especial para mim - eu e minha mãe, e demos com a cara na porta. Mas como? Era uma 5a-feira! "Feriado judeu", respondeu o português do bar, vizinho. Para mim era difícil entender como gente tão apegada a dinheiro podia deixar de trabalhar em plena 5a.-feira.
Mas, vamos ao que interessa. Cabe aqui a pergunta: você crê? Aí, não importa em quem nem em quê. Crer é um ato de entrega. Você entrega toda a sua credulidade. É um exercício de autruismo. É uma ação exercida desde os primórdios da humanidade e nos define como humanos. A atitude de autruismo torna possível a sobrevivência do ser humano em um ambiente extremamente hostil. Mais fracos e suscetíveis, a nós restou nos entregar para o bem do grupo. A forma como esse autruismo é exercido é através da articulação da crença, em nossas mentes. Crença no grupo, no líder, nos companheiros em ação conjunta de caça. Mais ou menos como os animais da espécie canina, dotados da capacidade de falar.
Com o passar do tempo a relação entre os humanos se sofisticou, ganhou novas dinâmicas. Na emergência da humanidade, aparecem o parasitismo, mutualismo, simbiose, predação, enfim, tudo o que rege a evolução natural, só que no contexto da sociedade. A capacidade de abstração nos permitiu alcançar a incontornabilidade da morte, e como tal, crer que seja possível ultrapassá-la. Se há um "pai" aqui entre os mortais (e a existência do pai é uma constatação que nos traz certo conforto), certamente haverá um Pai eterno e todo poderoso na vida eterna. O monoteísmo representou, sim, uma grande evolução para a humanidade.
Mas há aqueles que se rebelam contra a ordem, contra o Pai. Para esses, é preciso que se liberte da Sua tirania. No entanto, mesmo rebeldes, é preciso crer em outra coisa, um substituto do Pai. Aí, vem novamente a pergunta: você crê? Pergunte-se humildemente, meu amigo. Pergunte-se sempre. Porque crer é um ato que sempre nos leva ao mesmo ponto. Não basta se rebelar contra o Pai. É preciso se tornar independente dele. Olhar o mundo de forma cética é uma evolução que não se obtém facilmente. É preciso conquistar. E não é para todos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Deus e as eleições no Brasil 2010

Dos candidatos a presidente nessas eleições de 2010, uma candidata é, reconhecidamente, evangélica e criacionista. No Rio de Janeiro, um candidato a senador é membro da Igreja Universal e, declaradamente, criacionista. Pelo menos um candidato a deputado federal é evangélico e criacionista declarado, já baixando leis estaduais no sentido de forçar o ensino do criacionismo nas escolas públicas do Rio de Janeiro, enquanto governador. Há outros. Nenhum deles discursam ou mencionam suas pretenções a esse respeito. Fazem parte de um movimento maior, MEQEG: Me engana, que eu gosto. Nada dizem de suas pretenções para alcançar o eleitor incauto. Como Lula fez com vários dos seus (veja A quem trairás? para alguma discussão a respeito). No mínimo, quando a situação se apresentar favorável, deverão exigir o ensino da "Proposição Inteligente", uma sandice dos criacionistas americanos que seduz muito governo do interior dos USA. Se não bastasse a ignorância, que cada vez mais impera em nossa Sociedade, se não bastasse o fundamentalismo oitocentista, auto-denominado marxismo, para nos instigar com suas propostas de retorno do inquisicionismo, ainda vem essa trupe de ensandecidos nos querendo a volta do obscurantismo. Iluminismo neles, gente! Kant, Descartes, onde se escondem! Precisamos de vocês!